terça-feira, 4 de maio de 2010

Alegre por quê?


Quando estive morando em Santa Catarina, conheci rapidamente Vilmar. Ex-morador de Porto Alegre, agora vive em uma caverna localizada no Vale da Utopia, Praia da Pinheira. Foi entrevistado pelo programa Globo Ecologia, e quando o entrevistador perguntou a ele sobre seus motivos para essa mudança, ele pensou por três longos segundos, e respondeu: “Porque eu já não me sentia à vontade lá”. Conheço-o pouco, mas sei que nele fervem questionamentos e angústias. Ainda assim, ao invés de uma exposição impactante, poética, ou mesmo a defesa de uma causa ou bandeira, Vilmar preferiu uma resposta sucinta e aparentemente banal.


Antes de ir para Santa Catarina, já não me sentia à vontade aqui. Para um ciclista, as ruas e avenidas de Porto Alegre são especialmente opressoras, com seu trânsito mal-humorado e egoísta. A tensão extravasa o âmbito do trânsito; as pessoas evitam o próximo, seja pelo medo de qualquer desconhecido, pela raiva de alguém diferente de si, ou ainda, pela conveniência de desconhecerem as mazelas do seu vizinho.


Minha volta a Porto Alegre, cidade onde vivi por quase toda a minha vida, não foi um nostálgico retorno ao lar. Durante um ano e quatro meses afastado, observei formas de viver muito diferentes das que conhecia, e agora questiono alguns valores e modelos.


Adendo a essa postagem, escrito em 11 de abril de 2012.


Um dos resultados de pensar, é a eventual mudança de conceitos e opiniões. No aniversário de Porto Alegre, em 26 de março, foi um desses momentos de reflexão, e que me levaram a fazer a seguinte declaração no facebook:


"Eu não compreendia alguns habitantes que diziam que Porto Alegre é a melhor cidade do mundo, pois mesmo eu tendo morado por quase toda a minha vida aqui, percebia que havia outras cidades mais exuberantes, de clima mais agradável, e possivelmente tão ou mais acolhedoras. Mas após um curto período vivendo em outros lugares, voltei e percebi uma outra forma de viver, de me relacionar com a cidade, reencontrei grandes amigos que não esqueceram-me e conheci outros que em pouco tempo já passaram a fazer parte da minha vida. Agora entendo que somos nós que fazemos o ambiente onde vivemos."




Encerramento


Essa foi a minha primeira viagem longa, na qual percorri 4.256 km exclusivamente de bicicleta, metade da distância que pretendia a princípio. Essa diferença foi resultado de uma estimativa equivocada do tempo para o percurso, juntamente com o meu desgaste. A parte física é facilmente recuperável com alimentação e descanso, mas havia o desgaste psicológico. Após passar por diferentes vivências, eu sentia a necessidade de confrontá-las com as informações que já possuía, para buscar uma nova compreensão.


Confesso que não fiz um planejamento da viagem, somente tracei uma rota do litoral catarinense até Foz do Iguaçu, para então me engajar no planejamento feito por Nelson, que juntamente com Estevão, me acompanhou pela Estrada Real. Não me senti obrigado a completar o roteiro, estou satisfeito e já pensando na próxima.


Ainda antes de partir, eu disse que não sabia o que buscava, e que talvez só o soubesse após o meu retorno. Trilhar esse caminho não me trouxe alguma resposta ou revelação, mas resgato em minha memória experiências para comparar as diferentes realidades que observo.


E se há algo mágico nisso tudo, faz parte daquilo que ainda não posso expressar em palavras.

terça-feira, 23 de março de 2010

Em Porto Alegre

Após alguns dias em Foz, estou em Porto Alegre, mas vindo de ônibus. Cheguei sem saber exatamente o meu destino, e chateado com o final de um relacionamento.

Embora hoje eu não esteja muito animado para escrever, venho contar-lhes que já estou pensando na próxima viagem. Fiz uma promessa a mim mesmo, de que faria o caminho pelo norte, passando por Cochabamba e La Paz, e provavelmente seguindo rumo ao Peru. Ainda não há data para execução.

Desculpem a falta de inspiração, abraços a todos!


segunda-feira, 15 de março de 2010

Em Foz do Iguaçu

Passei o dia próximo à rodoviária de Santa Cruz, chamada de terminal bi-modal por ser também terminal de trens. Embora o vendedor, com uma conversa muito "envolvente", tenha me dito que o ônibus partiria às 19:00 e chegaria às 17:00 do dia seguinte, a fatura que ele me entregou anunciava 19:30. Como não havia muito o que fazer, cheguei às 18 hs. Fui primeiramente ao guichê da agência TransSuarez, que vendeu-me a passagem da empresa Yacyreta, e eles trocaram minha fatura por uma passagem onde constava o horário de partida como 20:00. Todavia, o ônibus só partiu às 20:45, com quase duas horas de atraso. Antes da partida, recebi uma segunda passagem, e então fui conferir ambas: A primeira, de Santa Cruz a Assunción, no valor de U$ 55, e a segunda, de Assunción a Ciudad del Este, no valor de U$ 10. Logo, a viagem não seria direta como havia dito o vendedor. Durante a madrugada, protegi-me do ar-condicionado com o meu saco de dormir, e acordei só quando o dia clareava, já junto à imigraçao da Bolívia, onde o ônibus havia parado para que fosse registrada a saída dos passageiros. Descemos todos, e um militar, com um fuzil, mandou que caminhássemos pela estrada até o posto de imigração, distante uns 500 metros dali, e enquanto isso o ônibus era revistado. Na caminhada ouvi algém falando em português, era o Renato, com quem então fui conversar. Chegamos a um casebre de madeira com uma varanda, e aguardamos um pouco até a chegada de um funcionário. Lá, fui inquirido sobre meus motivos e o tempo que permaneci na Bolívia, e logo depois recebi a baixa e fui liberado. Em frente à imigração havia algumas mulheres fazendo câmbio, então troquei meus últimos pesos bolivianos por guaranis paraguaios, pois até Assuncion não há casas de câmbio, e nem são aceitos reais ou pesos bolivianos. Quanto aos pesos bolivianos, creio que sequer nas casas de câmbio são aceitos.

Rodamos vários quilômetros pelo chaco paraguaio, até sermos abordados por policiais, que abriram os bagageiros e entraram no ônibus para ver os volumes que eram transportados. Depois disos, houve uma sucessão de paradas, com entradas de policiais, até que chegamos ao posto de imigração e aduana paraguaios. Lá, ficamos por mais de uma hora dentro do ônibus, aguardando outro veículo que estava sofrendo uma vistoria "pente fino". Os passageiros estavam na rua com suas bagagens por perto, enquanto policiais caminhavam por cima do ônibus com espelhos presos em hastes, procurando algo escondido. Enquanto isso nosso ônibus permanecia com o motor ligado, devido ao ar-condicionado. Contudo, os passageiros preferiram abrir as janelas, pois o ar-condicionado que funcionou tão bem durante a noite, durante o dia não tinha o mesmo desempenho.

Quando chegou a nossa vez, retiramos todas as bagagens e colocamos em uma fila, e nos postamos cada um ao lado de sua bagagem. Um cão pastor alemão, que nos aguardava numa jaula, foi atiçado por um policial com o "brinquedo" do seu treinamento, e logo após foi solto, para buscar cocaína nas bagagens. As pessoas eram revistadas, e algumas mais detalhadamente. Suas roupas eram apalpadas nas golas e costuras, suas malas eram apalpadas em busca de fundos falsos, as peças de metal eram vistoriadas em busca de soldas não-originais, os cremes das mulheres eram cheirados e testados em sua consistência. Quando fui chamado, após conversar com o policial sobre a minha viagem de bicicleta, fui liberado. Depois, soube que o Renato também não sofreu uma revista rigorosa. Assim, quando estávamos já partindo, o ônibus se deteve porque algúem nao passou pela imigração para receber a autorização de entrada. Fui eu, pois quando o oficial me liberou, fui direto para o ônibus. Após alguns minutos a mais, dessa vez por minha causa, seguimos viagem. Já eram mais de três horas da tarde, e estávamos muito distantes ainda de Assunción, o que me "fez supor" que não chegaríamos às 5 hs da tarde em Ciudad del Este. Após mais quatro paradas para conferência de documentações e bagagens, chgamos à 00,30 da madrugada junto à rodoviária de Assunción. A embreagem do nosso ônibus, que já estava patinando a cada vez que arrancava desde o início da viagem, não suportou a última ladeira antes da rodoviária.

Chegamos a pé na Rodoviária, somente eu e o Renato, pois os demais passageiros ficaram em um alojamento pelo caminho. Embora o motorista houvesse dito que sairiam ônibus por toda a madrugada, havia só um, às 4.00 da manhã, mas não pudemos embarcar nele porque nossas passagens não estavam completamente preenchidas, e não estaríamos na lista de passageiros. Deveríamos, então, esperar até às 7:00, quando a empresa abriria. Esperamos até às 8:oo, mas desistimos quando alguém, dos guichês das empresas vizinhas, disse que por ser domingo, os trabalhadores deveriam chegar somente pelas 10 hs, possivelmente "borrachos". Cansados de tanta espera, compramos nossas passagens com outra empresa, a NSA - Nuestra Señora de la Assunción. As passagens, que custavam 12 dólares, saíram por 10 cada devido à negociação de Renato, enquanto eu cuidava das bagagens.

De Assunción a Ciudad del Este, distante 400 km, a viagem foi muito confortável, ficamos na primeira fila de cadeiras no segundo andar do ônibus, com um moderno DVD em telas de LCD, tudo novinho e em perfeito funcionamento. Chegamos em Ciudad del Este às 12:30, com dezenove horas de atraso, e bastante chuva.

Fim da viagem?

Estou de volta ao Brasil, pronto para ver algumas pendências de minha vida. Daqui em diante, provavelmente mudarei a freqüencia e os motivos das postagens. Mas essas impressões imediatas que eu trouxe aqui, durante a viagem, em alguns casos são rascunhos de histórias que ainda não pude desenvolver. Irei recordá-las, e pretendo escrevê-las também, embora ainda não saiba de que forma farei, pois é possível que, com o fim da viagem, os leitores se desmotivem ou esqueçam do blog.

Se isso acontecer, não ficarei aqui sozinho. Mas de qualquer forma, nas próximas semanas devo postar as demais fotos e vídeos, bem como contar algumas histórias que ficaram para trás.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Retornando de ônibus - Santa Cruz de la Sierra (2)

Ainda na rodoviária em Sucre, uma agradável surpresa: ouvi "¿guillermo?", olhei para trás e era José, que administra o Hostelling International em Tarabuco. Estavam ele e sua prima, a qual eu nao conhecia, aguardando a partida de um ônibus que os levaria a La Paz. Comemos algo no terminal, e eu perguntei-lhe, brincando, se ainda queria comprar a minha bicicleta. Já tinhamos falado nisso, ele se apaixonou pela Silver (batizei-a assim devido ao silver-tape em algumas partes), e gostaria de comprá-la, embora eu tenha dito que nao desejo vendê-la. Ele quer fazer uma viagem de bike junto com seu irmao, que é mecânico de bikes e corre provas de mountain bike. Enquanto conversávamos, peguei uma das minhas garrafas "polar" para beber água. Ele disse "ah, uma dessas você pode me vender", eu disse que nao, e entao dei-lhe de presente. Ele disse "mas nao tenho nada para presenteá-lo", ao que retruquei que presente nao se dá esperando algo em troca. Logo mais me despedi, pois deveria ir até o embarque, conforme anunciavam os alto-falantes.

O segundo ônibus partiu de Sucre com destino a Santa Cruz às 17 hs, com meia hora de atraso. Ao meu lado sentou uma mulher jovem, com um bebê nos braços, nascendo os primeiros dentes. Era indígena, mas moderna, pois nao usava as tradicionais tranças, e ao invés do traje tradicional, jeans. Ela estava muito cuidadosa para que a criança nao invadisse o meu espaço, mas coloquei um dos meus sacos de dormir enrolado para o bebê recostar a cabeça, e ela nao precisar passar dezesseis horas segurando-o em seus braços. Conversamos pouco, e passei a noite me cuidando para nao machucar a criança. Pelas 9hs houve uma parada para ao jantar em Aiquille, e depois somente pela 1 da manha, para os passageiros urinarem, eis que nao havia sanitário a bordo. Em um povoado que nao pude identificar, as pessoas todas desceram, homens e mulheres, e urinaram próximo ao ônibus. Se via os homens em pé, e as mulheres em cócoras.

Pelas 9 hs da manha chegamos a Sta Cruz. Fui ao guichê de informaçoes perguntar sobre ônibus para Foz do Iguaçu, expliquei para a atendente que era na fronteira do Brasil com o Paraguai, e ela informou que nao havia. Todavia, fui no balcao da primeira empresa de viagens que vi, e a atendente me informou corretamente onde havia. Quando me aproximei, um homem já me interceptou oferecendo passagens, mostrando o diferencial do seu produto, que era ar-condicionado, sanitários e café da manha, ao custo de 65 dólares. Provavelmente há outras empresas mais baratas, já que ele estava bastante empenhado em vender-me a passagem, mas achei que valia a pena, há que teria mais 22 horas de ônibus através do Paraguay, e entao comprei a passagem. O ônibus partirá âs 7 hs da noite.

Após o almoço, depois de tomar uma ducha na própria rodoviária (3 bv), encontrei uma dupla de franceses desmontando suas bikes, conforme disseram, estao fazendo a volta ao mundo, e nessa etapa estao fazendo a América do Sul. Seu blog é o http://www.racontemoitonpays.org Estao indo para Puerto Iguazu, que é a vizinha argentina de Foz do Iguaçu, para seguir viagem pela Argentina em direçao ao Chile. Perguntei-lhes sobre a Bolívia, mas eles optaram por nao incluí-la no percurso, e os motivos sao o tempo disponível, e a dificuldade das estradas, mais exatamente no trecho pelo qual passei pela madrugada. Realmente, durante a noite o ônibus sacolejou muito, o motorista parou várias vezes para estudar o melhor ponto de passagem, e algumas vezes bateu com o fundo nas pedras. O caminho desde Aiquille até Pulquina foi bastante complicado, mesmo durante a madrugada, às vezes se enxergava pelos faróis de outros ônibus e caminhoes, e o que se via era assustador. O caminho que eu fiz de bicicleta, pelo sul, é um tapete, se comparado a esse.

Bom pessoal, mais notícias a partir de Foz do Iguaçu. Abraços!

Retornando de ônibus - Santa Cruz de la Sierra (1)

Hoje cheguei às 9:00 em Sta Cruz de La Sierra, após 22 hs de viagem. A partida foi atrasada em um dia, devido às chuvas que impediram que os ônibus chegassem de Santa Cruz até Potosi. Ontem, dia da efetiva partida, cheguei nais cedo ao terminal rodoviário, 11 hs, já pensando em almoçar por lá, pois a previsao de partida era para as 13 hs. Por precauçao, fui ao guichê para me informar, e evitar que se repetisse o que ocorreu na véspera, quando fiquei esperando uma hora além do horário previsto para a partida, até que a atendente do guichê viesse ao terminal de embarque para me avisar do dito imprevisto. Assim, quando cheguei ao guichê e perguntei se o ônibus partiria mesmo, me informaram que sim, mas já estava lotado. Como assim lotado? Expliquei a minha situaçao, e a soluçao apresentada foi que eu corresse até o terminal de embarque, que em poucos minutos sairia um ônibus para Sucre, e de lá eu pegaria outro para Santa Cruz. Sem alternativa, me toquei a correr. Quando cheguei ao terminal, fui barrado porque deveria pagar uma taxa de ingresso ao terminal, de 2 bvs. Paguei a tal taxa, soquei a bike em um bagageiro onde ela mal cabia e embarquei se almoço mesmo. Depois fiquei pensando: na véspera, quando fiquei à toa esperando o ônibus, ninguém cobrou-me essa taxa, o que me fez presumir que todos já soubessem à muito tempo que nao haveria ônibus para mim.

Quando o ônibos já estava rodando, saindo da estaçao, uma mulher saiu correndo pela pista e o fez parar para embarcar. Entrou com o bilhete procurando a sua poltrona, e como eu estava na primeira fila, perguntei-lhe o número do seu assento. - Quatorze - respondeu. Eu disse que o meu seria o quinze, mas ambos já estavam ocupados, e corretamente, segundo constava nas passagens dos ocupantes. Outro detalhe é que a quando troquei a minha passagem, que primeiramente anunciava uma janela, ela foi renumerada conforme um croqui com 40 lugares, enquanto o ônibus disponível era um micro com vinte e poucos assentos. Eu e a mulher nos conformamos e ficamos satisfeitos de, pelo menos, nao termos que viajar em pé por quatro horas até Sucre. Assim, ela sentou-se ao meu lado e fomos conversando. Aos poucos, foi perguntando da minha vida, e fui contando coisas que se conta a grandes amigos, ou a pessoas que você nunca mais verá. Ela se chama Valéria, é de origem indígena e tem um filho estudando arquitetura em Cochabamba. Contou-me algumas coisas sobre a Bolívia, dentre elas que até 1952 os índios nao tinham direito à terra, que as áreas pertenciam aos descendentes dos espanhóis, até que houve a reforma agrária. O funcionamento até entao, segundo ela me contou, era semelhante ao sistema feudal. Mais adiante, quando passamos pela parte alta, que eu referi em outro post como Muy Pampa, e que ela corrigiu como sendo Pampa de Lechesana, ela me contou uma história interessante. Disse que na década de 70, houve um plano para a agricultura local, financiado pelo governo americano, que tinha como base o plantio com agrotóxicos. Perguntei se era da Monsanto, ela confirmou a minha suspeita. Disse que após alguns anos de uma produçao fantástica, com batatas de 20 cm de diâmetro, a terra ficou imprestável, e somente depois de 40 anos começou a se recuperar, lentamente.

Chegando em Sucre, me despedi de Valéria e peguei a bike, após pagar 10 bv pelo transporte. Já havia alguém me esperando, de outra empresa. Parece que as transportadoras fizeram um tipo de intercâmbio entre si pra nao pôr outro ônibus só pra mim. Para embarcar, paguei mais uma taxa de uso de terminal, que a princípio seria devida pela empresa, já que originalmente eu nao teria escala. Para levar a bike, em cima do ônibus, tive que pagar mais 30 bv. Assim, a minha passagem custou 100 bv, e a a da bike 40 bv.

Vou encerrar o post agora, pois senao perderei o almoço.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Algumas consideraçoes e fotos.

Ontem, após falar com Ricardo, saí imediatamente do alojamento que já estava pago, dando um "adiós" para alguém de lá que falou algo que eu nem quis ouvir, e fui para o The Koala Den, um hostal muito interessante a um custo acessível, 45 bvs a diária (equivalente a menos de 15 reais), com café da manha incluído, e o principal, um atendimento muito além da decência mínima necessária, que faltava ao outro. Resolvido esse problema, fiquei pensando muito na conversa que tive com o Ricardo, que disse-me, entre outras coisas, que se eu voltasse agora deixaria para trás a parte que para muitos é a mais bela da Bolívia: o salar de Uyuni. O Ricardo disse-me ainda que ir de bicicleta até Uyuni seria uma puxada forte, pelas condições da estrada, e eu encontraria mais subidas acima dos 4.000 m, o que seria bastante dificultoso devido ao ar rarefeito. Fui até a agência de turismo vinculada ao hostal, e vi que o custo da viagem por três dias seria o equivalente a uns 200 reais, o que não é nenhum absurdo, considerados os preços no Brasil. Detive-me por bastante tempo pensando, até por fim tomar uma decisão.

Concluí que a minha viagem nao é exatamente uma viagem turística, e isso já desde o seu princípio, quando saí em direçao a Foz do Iguaçu. Acho que o termo cicloturista nao é o mais apropriado para mim, mas sim cicloviajante. Desde o princípio eu nao soube explicar o meu objetivo nessa viagem, nunca falei que queria ver as belezas de determinados lugares, embora elas sejam importantes, como também foram as más experiências. Então, concluo que era uma busca por auto-conhecimento. E por isso mesmo, não me sinto à vontade para embarcar num ônibus cheio de gringos para ficar olhando pela janela e batendo fotos. As impressões que tive por todos esses trechos por onde passei não cabem nas fotos que tenho postado, a cada foto que eu batia, depois a olhava e pensava: mas não foi isso o que eu enquadrei...

Enfim, só nao embarquei hoje porque o tempo chuvoso impediu a chegada do ônibus que me levará para Sta Cruz de La Sierra.

Haverá ainda mais reflexoõs, as quais postarei com calma, bem como os vídeos que não consegui enviar ainda ao youtube.

Abaixo, seguem algumas fotos dos últimos trechos.




Aqui, os limites do império Inca, que ia desde o Peru até a Argentina. Era um império guerreiro, que ainda assim conseguia manter a paz entre diferentes povos com um governo justo e nao-expoliativo, onde nao havia o dinheiro, mas vigia um sistema de trocas, e cada pessoa trabalhava somente quatro meses por ano. O ouro que aflorava do chao nao tinha valor e era considerado uma dádiva, por isso revestia os templos. Tudo ia muito bem, até que um senhor de nome Pizarro ganhou a confiança do Inca, e o traiu.


Aqui a vista do meu quarto do Hostal em Tarabuco.


Saindo de Tarabuco, rumo a Sucre.








Olha a picaretagem! Todos sabemos que é o São Judas o advogado das causas impossíveis!


Saindo de Sucre.




Parece um rio caudaloso, mas o leito é somente de pedras, apesar da grande ponte ao fundo. Muitos rios pelos quais passei estavam nesse estado, os que se salvavam possuíam apenas um filete de água.


Esse burro, algemado pelas patas dianteiras, vinha pulando em fuga pela estrada.


Corre filho, senão o carro te pega!


Vista do meu quarto, no alojamento em Betanzos.


"Cerro Rico", a grande mina de Potosi, vista do centro da cidade.


Selecionei algumas fotos de um álbum que encontrei aqui no Hostal.


Aqui apareceu acidentalmente o meu dedo, mas serve para comparar com os dedos do mineiro.


Em tarabuco, Juan havia falado sobre um culto dos mineiros, que criavam imagens do demônio no interior das minas, faziam oferendas com cigarros, e pediam proteção para saírem vivos, pois nas trevas, e a uma temperatura de 50 graus, é o diabo quem manda.


Outro diabo, de outra mina.


Mineiro carregando uma banana de dinamite e um saco com folhas de coca.


Vista da parte baixa de Potosi

terça-feira, 9 de março de 2010

Em Potosi

Saí de Betanzos às 7 da manha, e às 10 e meia estava em Potosi. Tive alguma dificuldade pra me instalar, e terminei por ficar no alojamento Oruro, que fica na rua de mesmo nome. Primeiro, alertaram-me que a diária iniciaria ao meio-dia (embora o quarto estivesse vago), eu aceitei, desde que pudesse deixar a bicicleta ali para sair a almoçar. Preenchi a ficha, e na hora de pagar nao havia troco para 100 bvs. Entao, eu trocaria o dinheiro no almoço, e pagaria depois. Ali começou a encrenca, pois eu poderia sair para almoçar mas o meu documento ficaria lá. Eu recusei, e disse que cancelasse. A garota disse que já tinha preenchido e nao poderia cancelar... aí, é complicado arranjar uma encrenca na Bolívia, mas bati pé que nao sairia sem meu documento, até que ela aceitou, já que a bicicleta ficaria mesmo... Falando na bicicleta, uma mulher azeda que me atendeu antes, disse que eu nao poderia pôr a bicicleta no quarto porque arranharia a pintura. O detalhe é que o quarto é um lixo, sem ventilaçao, pintura se desmanchando. Saí para o almoço, quando voltei perguntei se havia ducha, me disseram que só pela manha até o meio dia. Mas o que é isso? O cara chega de viagem, e banho só no outro dia? Entao saí decidido a procurar outro alojamento, mesmo já tendo pago. Mas após procurar um pouco, concluí que tanto faria um ou outro àquela altura.

Caminhei pela cidade, pensei um pouco no objetivo da minha viagem, e o sentimento que já trago de alguns dias prá cá, de que ela está se alongando muito. Conversei com um homem também hospedado no mesmo lugar, e ele afirmou que havia ônibus para Sta Cruz. Assim, decidi encerrar a minha viagem. Soquei a bicicleta no quarto, contrariando o que a mulher falou, fui até o terminal rodoviário, e comprei a passagem.

Agora, quando abri o meu e-mail, havia uma mensagem do Ricardo, que fez esse roteiro pela Bolívia, e me deu altas dicas, que se eu tivesse as lido em tempo hábil, possivelmente teria dado outro rumo para a viagem.

Mas isso também fará parte das minhas reflexoes.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Em Betanzos

Parti hoje cedo de Sucre rumo a Potosi, em uma noite muito mal dormida, em um alojamento onde, a cada duas horas, alguém tentava entrar ou sair e acordava todos os hóspedes sem que o dito "porteiro" acordasse. Assim, na última vez que fui acordado, às 5 da manha, preparei-me para partir e às 6hs já estava pedalando. Saindo de Sucre, a 2800 m de altitude, a primera cidade é Yotala, situada a 2.650 m. Até lá, cerca de 20 km praticamente de descidas. Depois, vem Millares, a 2400 m, até lá sao mais 40 km preferencialmente de descidas. Como eram 9:15 quando cheguei em Millares, apostei que poderia chegar hoje ainda na próxima cidade que constava no mapa, Betanzos. Para Betanzos, sao mais 60 km, e uma elevaçao de mais 1200 m, eis que fica situada a 3600 m do nível do mar. Após uma subida bastante cansativa, afinal cheguei à localidade de Muy Pampa, onde o terreno é plano e com alguns declives. Quando cheguei a essa localidade, faltando ainda 25 km até Betanzos, percebi que chegaria à minha meta. E cá estou, cheguei às 3 hs, após uma parada para fazer o meu macarrao para o almoço, já que nao havia onde almoçar em Muy Pampa. Instalei-me em um alojamento ao custo de 15 Bvs, bastante sujo e com direito a um banho frio, e amanha parto para perseguir os restantes 46 km até Potosi, sendo que até lá há uma diferença de 400 mts de altitude a mais. Pretendo colocar algumas fotos e vídeos amanha, de Potosi.

domingo, 7 de março de 2010

Em Sucre

Após visitar a feira de Tarabuco, para onde convergem vendedores de grandes distâncias, muitos vindos à pé com seus produtos, parti com destino a Sucre, às 10:30. Na saída, algumas ladeiras que nao pareciam muito dificultosas, mas creio que os 3.200 mts já me fizeram sentir o oxigênio reduzido. Mas logo começaram as descidas, e no bom asfalto que há até Sucre, percorri os 65 kms em 3 hs. O friozinho que havia em Tarabuco, onde as máximas giram em torno dos 17 a 20 graus, já nao há aqui em Sucre. Na estrada, encontrei alguns ciclistas numa prova de speedque iam provavelmente de Sucre a Tarabuco, e terminando em Sucre. Creio que sairei amanha cedo em direçao a Potosi, Sucre é uma cidade grande e nao me sinto à vontade. Vou dar uma passeada agora à tarde e me dou por satisfeito.

Mais notícias nos próximos dias.

sábado, 6 de março de 2010

Um momento de reflexao

Esta noite sonhei que usava um teclado que possuía "til", pero... no hay.

Ontem conheci José, que administra o Hostel onde estou instalado. Ele me sugeriu que aguardasse até o domingo para partir, pois há um evento com uma feira, o qual seria interessante que eu conhecesse. Pensei que nao seria possível, pois sinto que a viagem está se tornando muito longa no ritmo que sigo. No fim de tarde, José me avisou que ocorreria um ritual para Pachamama, este é o nome pelo qual os povos andinos chamam a mae natureza. Compareci no ritual onde, além de mim, participaram José, Carmen e Juan. Carmen é quem cuida do refeitório, e Juan é um voluntário, alemao, que trabalha aqui. Durante o ritual, ficamos em torno de uma fogueira já somente em brasas, mascamos algumas folhas de coca, acendemos e fumamos cigarros (igual ao Clinton, nao traguei) e os colocamos sobre as brasas. Oferecemos alguma bebida alcoólica, que estava em pequenos frascos e por isso nao sobrou para nós. Durante o ritual, no qual Carmen pediu proteçao para todos, para nossos trabalhos e para a minha viagem, ela conversou comigo e da mesma forma que José, sugeriu que eu aguardasse um dia a mais para partir.

De volta a meu aposento comecei a pensar no objetivo da minha viagem. Atá agora, nao consegui estabelecer precisamente o que procuro. Sequer havia bem planejado e definido a velocidade da viagem, pois a princípio imaginei que poderia percorrer e conhecer toda a Bolívia em apenas 30 dias, e ainda ter algum tempo para conhecer o Peru. Mas que tipo de conhecimento eu procuro ao passar rapidamente por cada lugar? A bicicleta reduz essa velocidade, mas ao empreender uma viagem com tanta pressa, me sinto como que preso a um cronograma, e imagino aquelas viagens de uma semana, onde há um guia que esgota os pontos turísticos, e o viajante somente vai perceber onde esteve quando estiver em casa conferindo calmamente suas fotos.

Decidi, por fim, que vou reduzir o tamanho de minha viagem. Portanto, o trecho que estou rodando exclusivamente de bike será encerrado no salar de Uyuni, e depois devo seguir para o Brasil, pasando por Foz do Iguaçu para visitar o camarada Nelson e pegar alguns objetos pessoais que deixei em sua casa. Nao posso enviar esses objetos pelo correio, pois em uma cidade fronteiriça como é Foz, preciso de nota fiscal de tudo.

Postarei um vídeo do ritual, assim que conseguir "upar" os seus 2:30 minutos, os quais, segundo a previsao do youtube, levarao 12 horas mais, isso se nao houver erro. Enquanto isso, algumas fotos tiradas entre ontem e hoje.



Bienvenidos a Tarabuco.


Voce nao, soldado espanhol!
Esse, com o coraçao na mao (literalmente) é Tata Kalissaya.


Aqui, a área interna do Hostel International, em Tarabuco.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Em Tarabuco

Saí de Padilla às 8:30 rumo a Zudañes, passando por Tomina. Até Tomina, há uma pista bastante rápida, com descidas, sendo que fiz os 35 km em 1:30hs. A vegetaçao é bastante seca, e uns 10 km após Tomina encontrei um riacho com água aparentemente boa para fazer o meu almoço e lavar as panelas. Começou a se armar um temporal, mas eu percebi que provavelmente nao chovesse por onde eu passava, pela secura do ambiente. De fato, houve alguns pingos que sequer molharam a poeira da estrada. De Tomina a Zudañes a pista é difícil, com pedras soltas, poeira, e muitas subidas, por 45 km. Cheguei a Zudañes às 15:30 e saí em busca de alojamento, mas nos poucos existentes nao havia vaga. Enquanto eu falava com algumas pessoas lá, ouvi um barulho forte de água: era um leito seco de um rio se enchendo rapidamente pela chuva que caía nas montanhas, o povo correu para olhar, e eu juntamente. Fiquei me enrolando até às 4:hs, quando decidi, após ouvir algumas informaçoes, a seguir viagem até Tarabuco, distante 45 kms dali. Na verdade, disseram que seriam 40 kms, mas já nao contei com isso, pois um dos mapas que eu tenho falava em 45 kms. Desses, os primeiros 12 kms sao pavimentados com concreto, e muitas descidas, onde eu andava entre 30 e 45 km/h. Após, pedras soltas, poeira e subidas. Porém, nos últimos 25 kms, exclusivamente de subidas, a estrada está pavimentada também. Sao subidas longas e de razoável inclinaçao, que me levaram aos 3.200 mts de altitude de Tarabuco. Cheguei quando escurecia, pelas 19:00 hs, e hoje está fazendo um friozinho de cerca de 10 a 12 graus. Entao caros leitores, novamente escrevo um post que somente relata as condiçoes da estrada e algumas poucas experiências, mas na verdade há mais a falar, só que agora nao há tempo para as demais reflexoes. Entao, finalizo com algumas fotos.


Bike posando para foto.


Eu, enciumado, pulei na frente.


Paisagem no primeiro trecho, até Tomina.


Entre Tomina e Zudañes.


Cuidado com essa pista: a qualquer descuido, derruba você mais rápido que cachaça. Várias vezes quase caí (na pista, nao na cachaça).

quarta-feira, 3 de março de 2010

Em Padilla

Após passar por Valle Grande, onde fiquei um dia para descansar e evitar a chuva que caiu o dia todo por lá, fui até La Higuera. Pedalei os 64 kms das 8:30 às 16:30, com minha parada para almoço. Em uma subida, fui solicitado a empurrar uma caminhonete, juntamente com outras duas pessoas que estavam com o motorista. A 4X4 estava sem bateria e presa em uma parte lodosa da estrada, empurramos pra frente e para cima, depois para trás e para baixo, até que o motorista a ligou no tranco engatado em ré. Foi embora sem oferecer carona, mas nao faz mal porque eu também nao aceitaria. De qualquer forma, eu ia pensando nisso quando mais à frente uma outra caminhonete passou por mim, e parou mais adiante. O acompanhante saiu do carro para tirar uma foto minha e eu fiz um "V" de vitória para a foto. Depois ele me ofereceu carona, a qual nao aceitei.

Em La Higuera, onde fiquei dois dias, parei num alojamento a 20 bvs a diária, que fica no prédio comunitário onde funciona a escola. Quando eu estava tirando a lama da bicicleta, apareceu uma mulher oferecendo alojamento a 15 bv, mas eu lhe disse que já tinha tratado com outro. Ela disse que servia jantar, e era do tempo da guerrilha. Sua "tienda" fica antes do alojamento onde fiquei, ao seu lado. Fiz lá as minhas refeiçoes, conversamos um pouco sobre aquela época. Ela contou que era quem quem servia refeiçoes ao Che, e falava com lágrimas nos olhos. Contei que no Brasil as pessoas que se identificam com o Che sao discriminadas, pois as pessoas se guiam muito pelo que diz a imprensa, toda de direita. Falei também que a imprensa diz o que lhe convém e alega ser opiniao pública, como fosse mandatária do povo, mas ao final convence muitos, e assim vai muito bem. Falamos sobre a internet como difusora de informaçoes, e ela, mesmo sem posuir internet, e com os seus aproximados 65 anos, mostrou ter essa consciência.

Saí de La Higuera rumo Villa Serrano. Saí num vôo cego, pois nao tinha a noçao da distância. Retornei 10 kms de subida, até a saída que há em direçao a Villa Serrano. Desci por quase 25 kms, já pensando que a cada descida normalmente corresponde uma subida de semelhante magnitude. Minha dica para quem for por esse caminho: leve bastante água, pelo menos uns 4 lts. Nao vai durar o percurso todo, mas ao menos dá tempo de chegar seguro a algumas vertentes. Mais adiante, vi uma placa que anunciava mais 75 kms pela frente, que somando o que eu tinha andado, dava 115 kms. O tempo que estava úmido começou a esquentar e ficar desértico, até próximo ao meio dia cheguei a um rio, e aí... subida e mais subida, numa estrada ruim, muito calor. A estrada segue margeando o rio, e todos os rios que eu tinha visto até entao, incluindo esse, possuem águas totalmente lodosas, e entao comecei a perceber que as montanhas no seu entorno estao se desmoronando. A rampa nao é muito inclinada, mas há muitas pedras soltas, a pedalada nao rende. Passando um pouco de "El Oro", há um riozinho que é necessário atravessar, apesar da profundidade até os joelhos e a correnteza forte. Escapei de cair e molhar todo o equipamento, peguei água de lá, que segundo nativos que ali estavam é boa para beber, tomei um banho pra me refrescar um pouco e segui pedalando até o entardecer. Já estava muito cansado, e quando ia já procurando onde cair, cheguei a "Nuevo Mundo", um vilarejo a 95 kms da minha partida. QUando cheguei lá, virei atraçao da cidade, onde ia, o povo me seguindo. Em frente à praça, há uma mulher que possui uma pensao, e me serviu um jantar reforçado. Embora outro homem tenha me oferecido hospedagem, fiquei por lá, instalado numa salinha onde havia dois telefones, creio que os únicos do povoado. À noite entrou alguém para tentar uma ligaçao, e pela manha fui acordado com alguém telefonando. Pela manha saí, dei algum dinheiro a mais para a mulher, que precisava resgatar os filhos que estudavam em Villa Serrano, e segui viagem. De lá, mais 30 kms até Villa Serrano. Parei lá para acessar internet e almoçar. Depois de falar com o motorista de um micro que iria a Padilla, decidi seguir viagem, pois distante 25 km de lá, e com boa estrada, sem subidas. As informaçoes bateram certo, fora a diferença de uns 4 kms a mais até o centro. Cheguei aqui em Padilla pelas 3.30 hs da tarde, quando parei em frente ao "Alojamiento Municipal", um menino na calçada me viu, abriu o berreiro e saiu correndo... ciclista é um bicho estranho mesmo. Me instalei em um bom quarto com banho privativo e TV boa (detalhe do chuveiro estragado), consegui lavar algumas roupas e tomar um banho atrasado em 3 dias.

Consegui postar algumas fotos, mas a lerdeza impressionante desse PC prejudicou. Pus mais algumas no Orkut pra aproveitar o tempo.

Che, com montanhas ao fundo.


Pneu com cravos cortados, pois passando por lamaçais sujavam a corrente.


Após descer de La Higuera, encontrei este rio que separa as serras.


Essa a paisagem desértica margeando o rio.


Em "El Oro", um riacho entre sobras de minério e lama das encostas.


Paisagens magníficas


apesar da estrada difícil.


Tive que atravessar esse rio carregando a bike, e nele me abasteci.


Muito calor e subidas.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Em Valle Grande

Ontem decidi que sairia hoje cedo de Samaipata rumo a Valle Grande, distante 130 km. Gostaria de ficar mais tempo em cada lugar, mas fiquei muito tempo parado desde Corumbá até Santa Cruz de la Sierra, entao achei que era hora de seguir caminho. Nao sabia as condiçoes da estrada e como seriam as subidas, pois pela avaliaçao da altimetria, constatei que até Mataral desceria de 1700 até 1300 mts, e depois subiria até os 2000 mts. Saí 6.30, e o primeiro trecho de 73 km até Mataral foi rápido, apesar de um trecho de subidas. Peguei o desvio em direçao a Valle Grande, e para minha surpresa o trecho todo está asfaltado, diferentemente do que dizia o meu mapa. Parei para almoçar ao meio dia, rodados exatos 100 km, fiz um macarrao e consertei o pneu que furou com um espinho, quando saí afoitamente da estrada. Minha fita anti furos foi mais uma coisa que abandonei pelo caminho, pois agora estou carregando mais peso (fogareiro e panelas de aço, água e comida) e mais volume (casaco grosso, calças jeans e sapatos), e creio que a tendência é só aumentar. Voltei a pedalar às 13:30, e entao começaram a aparecer mais subidas, especialmente concentradas nesse último trecho de 30 kms. Sao cansativas para quem já está pedalando à algum tempo e bastante carregado, mas razoavelmente suaves, nada que se compare às ladeiras que passamos pela Estrada Real. Tiro a mesma conclusao do sujeito de uma piada, aquele que caiu do décimo andar, e quando passava pelo oitavo pensou: até agora, tudo bem. Cheguei em Valle Grande, e às 16:00 já estava instalado em um "Alojamiento", ao custo de 25 Bv a diária.

Seguem algumas fotos pra galera, tenho alguns vídeos que dependem ainda de uma pré-ediçao, e a net desta lan é muito lenta.



No hotel que fiquei em Samaipata, "Hotel Clube de Xadrez", há uma "quadra" de xadrez, até com arquibancadas.


Este é o mapa "digitalizado" desta etapa, o google maps nao consegue calcular rotas na Bolívia.


Samaipata ficando para trás e para baixo.


Primeiras montanhas do trecho.


Em Mayrana, a nebulosidade ficando para trás.


Este o astral da estrada, após Mataral.


Aqui, a construçao sinuosa da estrada, reduzindo a inclinaçao das ladeiras.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Em Samaipata

Hoje estou em Samaipata. Saí ontem, sem saber se chegaria no mesmo dia, e também havia a possibilidade de visitar um lago que existe no trajeto, a cerca de 40 km do meu destino, conforme dica do Fábio, cicloturista que já fez o mesmo caminho.

Saí de Santa Cruz pelas 7:30, no início a estrada é ampla e com bom acostamento, porém entre La Guardia e El Torno o caminho se complica um pouco, nao há acostamento e passam muitos caminhoes. Ainda no perímetro urbano de Santa Cruz, percebi a escuridao em direçao à serra, sinal de chuva. Próximo a El Torno começou a chover, e resolvi me abrigar por meia hora em um toldo improvisado como parada de ônibus, até que a pancada terminasse e a estrada secasse um pouco. Segui viagem, rodei cerca de 60 km e parei em uma área para cozinhar um macarrao, pois suspeitava que nao haveria almoço próximo. Cozinhei com uma água turva que corria das pedras, pois nao quis desperdiçar a água que levava. Após esse trecho iniciaram as subidas. Subidas em asfalto, com pouco trânsito, e inclinaçao leve. Meus cálculos eram de 120 km de distância entre Sta. Cruz e Samaipata, mas uma placa me fez corrigir para 117. Fui bem até os 117 anunciados, cheguei a 120, e após havia ainda uma subida por mais 10 kms. Como me programei para apenas 117 a 120 kms, esses 10 kms extras significaram um stress pela sede, pois minha água já havia acabado, embora eu tenha bebido alguma "soda" e coca-cola pelo caminho, já que nas vendas nao havia água.

Cheguei Em Samaipata pelas 5:50, e logo caiu uma chuvarada que durou a noite toda e parte da manha também. Estou instalado em um bom hotel, ao preço de 35 bolivianos a diária, devo ficar mais um dia e seguir em direçao a Potosi.



Aqui, a´"última ceia" (em Sta Cruz, claro..)


A chuva que se anunciava


As montanhas começando pequenas


começam a aumentar


Deve ser cruza de burro com lhama


Mais próximo à chegada


Últimos quilômetros, a 1.700m de altitude.