terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Primeira etapa concluída

Optei por fazer essa postagem em formato de memorial, pois logo virão novas informações e muitas poderão ser esquecidas. Por isso algumas passagens podem dizer pouco para os leitores, mas são lembretes para que eu possa retomar a situação ali vivida, quando houver mais tempo.
Após uma semana de viagem, com cerca de 950 km pedalados, cheguei a Foz do Iguaçu. A viagem toda transcorreu sem problemas, apenas passei por alguns trechos muito cansativos.
Minha partida, da Praia da Pinheira, foi às 10:30 hs, sob sol forte. Logo de saída, perdi o meu casaco corta-vento que ia preso sobre o alforje. Nesse primeiro dia rodei 120 km, e passei por uma serra com 1.250 metros de altura. Mexi no selim algumas vezes para melhorar o desconforto que surgia na musculatura sob os ísquios. Após procurar muito um local apropriado para acampar, parei já à noite na entrada de Alfredo Wagner, em um posto de gasolina. Fiquei nos fundos de um restaurante, era um estacionamento de pedras e chão batido, irregular, inclinado, quente... mas a outra opção era um gramadinho mínimo, embaixo do viaduto, conforme sugeriu o dono do restaurante. Quando terminei de armar o acampamento e me recompor, o restaurante já estava fechado, então jantei granola e algumas nozes que portava, e fiquei só no banho de paninho. No meio da noite saltei da barraca, devido ao calor que emanava do chão e fui para o relento com o isolante térmico (no caso, para não passar o calor do chão para o meu corpo) e um saco de dormir leve. Apesar de haver um segurança no posto, ainda assim dormi com um olho aberto e o outro fechado, e pela manhã acordei com um cachorro xeretando minha comida.
Seguindo o meu roteiro, passaria por um trecho sem pavimentação, de 45 km Percebi algumas mudanças climáticas, algumas tempestades passando próximas e me molhando um pouco, mas estava refrescante, apenas havia vento contrário em alguns trechos. Havia algumas subidas curtas, a pista relativamente lisa com "pedrisco", que são pequenas pequenas pedrinhas soltas, na verdade brita moída, do tipo que se usa na composição do asfalto e se vê pelos acostamentos. Ao final do dia, já bastante molhado, fiquei num posto de gasolina onde conheci o Marcel, ciclista que pedalava de speed, e conversamos sobre o próximo trecho que eu pretendia fazer, entre Taió e Santa Cecília. Ele me desaconselhou, ainda mais com a bagagem que eu levaria. Mas conversando, chegamos àquela conclusão de que alguns preferem asfalto, outros estrada de chão, e todos são felizes assim. Claro que eu pensei: “ah, ele pedalava de speed, mas na Mountain Bike subo no disquinho” (relação de marcha mais leve, tipo caminhão em primeira)... que nada, dias depois me contaram que lá é um dos trechos mais temidos pelos ciclistas da região. Enquanto eu escorregava nas pedras de 1 a 2 kg que compunham a pista de rodagem, as dores apareciam em vários pontos: pescoço, ombros, costas superior e inferior, pernas e bunda. Mas não onde já doía, era uma espécie de cãibra na musculatura do “step”. Foram horas empurrando 14 km montanha acima, e nesse tempo questionei várias vezes os meus objetivos, pensando como seria ainda pela frente nos próximos meses. Resolvi que era o momento de começar a usar a raiz de fáfia.
No meio daquela garoa finíssima, plantas e insetos estranhos, me senti no próprio Elo Perdido. Durante a subida, bebi mais de um litro da água que corria pelos paredões, e também constatei que a garoa fina e densa era uma nuvem. No topo, lugar que deveria ser magnífico, encontrei destruição e lixo. Mas isso à beira da estrada, porque mais adentro, a floresta é imponente entre as nuvens. Antes da minha descida, eu percebia uma modificação drástica do clima. De um minuto para o outro, aquela umidade sumiu e tudo mudou. Tornou-se um verdadeiro deserto, tomado de lavouras e mato seco. Eu saíra do Elo perdido direto para o cenário desértico de Guerra nas Estrelas, ou do Planeta dos Macacos. Já passava de meio dia e a minha água, já morna, estava prestes a terminar, e não havia nada nem ninguém pelo caminho. Eu já tinha dúvidas de se estava na estrada certa, pois havia passado por uma bifurcação a uns 15 km atrás, e se estivesse errado minha situação seria delicada, isso me deixava tenso. Mas lá adiante avistei os caminhões passando pela BR 116, então eu estava próximo à Santa Cecília. Já decidira que pararia no primeiro local apropriado, pois não havia mais condições físicas para continuar, embora fossem apenas 13.00, e eu tivesse percorrido apenas 80 km, No restaurante que parei, dentro de um posto na entrada da cidade, havia dois meninos, de 6 e 8 anos, com suas bicicletas. Almocei conversando com eles, sobre as nossas peripécias, me contaram que já participam de provas ciclísticas promovidas por uma bicicletaria da cidade. Falei com um funcionário do restaurante, sobre colocar a barraca por ali, ele disse que a dona do posto era chata e podia não deixar, mas se falasse com o dono, ele deixaria. Preferi evitar confusão e segui para outro posto a seis quilômetros dali. Após uma refrescante pancada de chuva, comprei um abacaxi para o lanche, e uma câmara de ar para estepe, pois carregava apenas remendos. Menos de um km adiante, acertei uma pedra e usei a referida câmara. Fui até o posto que fica no entroncamento para Lebon Régis, e me instalei em um mato de pinus ao lado do restaurante que tinha lá. Senti-me seguro, pois do outro lado da pista havia uma “Boite”, assim dizia a placa, e ao meu lado uma borracharia 24 hs. Naquela região vi muitos caminhões carregados de porcos, percebi também que há muitos frigoríficos por lá. Vi dois caminhões parados ao lado do meu acampamento, com porcos amontoados e guinchando, enquanto os motoristas almoçavam uma boa chuleta na chapa.
No quarto dia, saí de Santa Cecília em direção à BR 153, rodovia Transbrasiliana. Passei por Lebon Régis, almocei em Caçador e fui em direção ao trevo da BR 280, distante 30 km de Horizonte. Não havia trânsito ou casas. Numa pancada de chuva, parei numa clareira mais afastada onde tinha alguns pedaços de madeira, cobri a bike e a bagagem e tomei um bom banho de chuva, invocando força e proteção. Quando passou a chuva, saí de lá e logo percebi a falta de meus óculos. Quando retornei lá, vi meus óculos, e vários cacos de garrafa, inclusive um fundo cortante para cima, no lugar onde eu andava descalço. Segui viagem, e no meio do nada vi uma placa no papelão escrito com giz “vende mel no bar” já parei por lá. Saiu uma senhora, não estava com uma cara muito boa. Seu nome é Carmem, logo que começamos a conversar ela perguntou se eu estava pagando promessa. Eu disse a viagem  tem algum significado que ainda não sei, mas não é promessa. No fim, ganhei um bom desconto no mel e até uma bênção. Já na Transbrasiliana, segui até o trevo para a BR 280 e fiquei num restaurante, único ponto para parar nas proximidades. Fiquei ao lado do restaurante, numa parte coberta e bem ventilada. Nesse dia rodei 148 km.
No quinto dia, fui até o trevo de acesso a Pato Branco, numa distância de 148 km. Muitas plantações, muito movimento de carros (véspera de Natal) e trechos com acostamento ruim. Passei uma noite agradável ao lado de um restaurante que fechou mais cedo para as comemorações, quem atendia era um casal e sua filha. Conversamos, e eles contaram que já acamparam outros cicloturistas por lá, falaram de dois alemães.
No sexto dia fui até Capitão Leônidas Marques, distante 158 km. do meu acampamento. Parei para almoçar em entre Francisco Beltrão e Sta. Isabel do Oeste, perto do Posto Panorâmico. Primeiramente, parei num estabelecimento à minha direita, as pessoas estavam almoçando, devia ser um almoço familiar, afinal era Natal, mas como o quiosque estava aberto eu não tinha como saber. Ficaram todos me olhando com uma cara que quem não sabiam se ficavam parados ou fugiam, deviam ter me achado muito estranho. Saí dali silenciosamente e fui até o restaurante do outro lado da pista, mas era uma vistosa Churrascaria, onde as famílias almoçavam nos feriados, e não um posto de caminhoneiros. Mas não havia muita escolha àquela altura, pois passei por muitos restaurantes fechados devido ao feriado. Enquanto eu me recompunha, veio conversar comigo o Luiz, homem entre 60 e 70 anos, freqüentador do restaurante. Falamos sobre a viagem, e então ele me disse: “fale com o Tesser que ele paga o teu almoço”. Eu disse a ele que não o faria, pois não me sinto à vontade para isso, falei também sobre o porquê de não ter procurado patrocínio para a viagem. Quando saí do banheiro ele me abordou e disse: “falei com a menina do caixa, ela disse que está tudo bem”. A menina do caixa é a Alana, com quem conversei depois, e é filha do proprietário. Falei também com o Rosálvaro, que atende no estabelecimento, foi ele quem me disse da fama daquela estrada entre Taió e Santa Cecília. Ele praticava Mountain Biking e parou devido a outras atividades, mas espero que retome. Saí de lá, rodei alguns quilômetros e comecei a pensar na minha água, que já estava acabando. Passando por Lindoeste, avistei uma tenda de frutas, e pedi água de côco. Quem atendia lá era a Maristela. Também me perguntou se eu pagava promessa, e ao final me deu de brinde o côco que eu queria comprar, e mais algumas ameixas. Após, parei ao acaso em um posto de gasolina para comprar água, e me deparei com uma bicicleta pendurada, com alforjes e bandeiras, foi de um cicloturista que pedalou mais de 200.000 kms e entrou para o Guiness Book. Perguntei por ele, onde estava. Seu nome era Manoelito Silva, morreu ano passado de hepatite, me disseram. Saí pensativo a pedalar, quando estava quase chegando em Capitão, um motociclista com carga, que pilotava em uma posição quase deitado uma moto "cross" que não identifiquei, me cumprimentou e passou. Já era noite e não convinha continuar na estrada, apesar de ser necessário andar um pouco mais para poder encerrar a viagem no próximo dia. Parei em um posto e encontrei o mesmo motociclista que antes me cumprimentou. Conversamos, ele está fazendo uma rota pela América Central e do Sul. É o Vanderlei, está relatando a sua viagem no blog byvande.blogspot.com.
Dia 26, uma semana após a minha partida, saio de Capitão Leônidas Marques em direção à Foz do Iguaçu, a uma distância de 190 km. Não segui pelo roteiro inicial, que passaria por Capanema, pois fui informado que aquela estrada que corta o Parque Nacional do Iguaçu está fechada. Depois o Nelson explicou o motivo para o fechamento, isso foi para preservar a floresta, pois por essa estrada escoaria a produção de grãos, que fatalmente brotariam na mata e mudariam o ecossistema. Andando sob o calor forte, parei para almoçar em um restaurante, quando um casal de motociclistas que iam para o Atacama observou meu pneu dianteiro gasto. Olhei e achei que com ele ainda chegaria ao final da viagem, mas com isso fui revisar o traseiro, e espantei-me ao constatar seu estado lastimável, já arrebentando, com a fita anti-furos interna servindo já de banda de rodagem, o pneu mantinha-se ainda apenas com algumas poucas fibras. Troquei o pneu traseiro pelo dianteiro, diminuí a pressão, e passei uma fita silver-tape para continuar os 80 km finais. Cheguei em Foz, e fui recebido pelo Nelson, experiente cicloturista. Conversamos um pouco, e logo percebemos que o pneu estava vazio. Mas isso não importava, pois eu já havia chegado.
Tirei algumas fotos, mas com o celular não ficaram boas. Para a próxima etapa, teremos uma boa Câmera e uma filmadora. Abaixo, algumas fotos selecionadas













sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Primeira etapa: Praia da Pinheira - Foz do Iguaçu.


Esta é a primeira etapa da minha viagem, dividi o percurso de 902 km em oito trechos. Parto amanhã da praia da Pinheira, em Santa Catarina, para chegar em Foz do Iguaçu, no Paraná, e encontrar o companheiro Nelson para seguirmos viagem. Não sei das condições da estrada, conheço apenas o primeiro trecho, mas tenho informações de que o último trecho está em boas condições, conforme disse o Nelson. Creio que levarei uma semana de viagem.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Previsão da partida

Está chegando a hora. Minha partida coincidirá com o passeio ciclístico promovido pela Titânio Cycles e Armazém Cumbatá. O Titânio, que há muito falava em promover um evento desses, me convidou a participar e dali iniciar a minha viagem. Então, partirei nesse próximo domingo, 20 de dezembro.

Ainda não falei de minhas expectativas e motivação para a viagem, e acho que também não será desta vez. Não encaro como um desafio, embora já espere o calor forte nos trechos mais puxados, onde rodaremos de 150 a 200 km por dia. Mas sei que posso, e levo o necessário para minha manutenção e da bike. Também estou garantido para o frio de até -20º que posso encontrar no altiplano.

Tenho postado apenas sobre acontecimentos triviais, alguns aparentemente sem relação com a viagem, mas que farão parte dessa construção. Ou destruição, depende do ponto de vista. Dizia o Professor Paulo Albuquerque, titular da disciplina Sociologia da Educação, que a seu ver o acadêmico sai da universidade não "formado", mas sim "deformado".

Ainda não sei o que procuro, mas o que eu encontrar refletirá nessa construção, ou destruição.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Conto do Cicloturista movido à álcool e agradecimentos

Ontem, andando de bike, cruzei com o "baixinho". Não sei o seu nome, mas apenas o apelido pelo qual já o conhecia quando o atendia na oficina da bicicletaria do Titânio. Falou que pretende fazer uma viagem de bike, percorrendo uma distância de cerca de trinta a quarenta quilômetros até chegar à casa de parentes, para retornar no dia seguinte. Está satisfeito com a sua bike, um modelo simples avaliado em cerca de R$ 200,00. Disse que algumas pessoas já ofereceram algum dinheiro pela sua bicicleta, um ofereceu 50 reais, outro 100... mas conforme ele disse, "não achei a bicicleta, não vou dar de graça. Quando eu bebia joguei muita coisa fora, mas já faz dois anos e dois meses que não bebo, agora posso ter minhas coisas".

Contou-me ter conversado com um sujeito que está bebendo pelos bares da Pinheira, ostentando uma bicicleta com bandeiras do Brasil e de um estado que não soube identificar, carregando bagagem e algumas panelas dependuradas. Na conversa com esse sujeito, o mesmo anunciou que viaja patrocinado. O Baixinho, conhecedor da vida nos bares, não caiu no conto do cicloturista movido à álcool.

Quando iniciei os preparativos para a viagem, alguns amigos me sugeriram buscar patrocínio. Mas, buscar patrocínio com quem? bater em qualquer porta, tentando "vender" um anúncio na camiseta ou na bike? Creio que foi o que esse improvável cicloturista fez - se é que realmente o fez, pois isso muito parece papo de bêbado. A verdade é que ninguém oferece dinheiro sem esperar algo em troca, e não estou disposto a negociar parte do meu objetivo.

Mesmo assim, fiz contato com a editora de uma revista da qual sou assinante, e pela qual tenho empatia, perguntando se lá existe um canal para alguma espécie de apoio. Isso faz quase um mês e sequer recebi resposta.

Por outro lado, conheci algumas pessoas que curtiram a idéia da viagem e querem se manter informadas. Essas pessoas ofereceram o mais importante, o seu apoio moral e o seu pensamento projetado à distância. Isso sim, me alimenta e dá força neste momento, mais do que eventual vínculo financeiro.

Assim, no final desse post, faço meus agradecimentos aos meus amigos e familiares, e também cito o Raul, da AVM Aventura, de Torres. Encontrei a sua loja por acaso, lá fui muito bem atendido e ainda consegui os melhores preços nos equipamentos da Trilhas e Rumos. Trabalha também com material da Curtlo, e além disso com equipamentos para motociclistas: consegui um ótimo preço de óleo para minha suspensão - Motorex 5W. Não esquecendo também o Maurício da POC, fabricante de alforjes, que pediu para que eu tire algumas fotos de equipamentos de outros cicloturistas que eventualmente encontre pelo caminho, para que ele possa evoluir o seu produto.

Bagageiro



Aqui em Santa Catarina não encontrei alguém com um aparelho de solda TIG, necessário ao meu projeto de conserto e reforço, devido à pequena espessura do tubo e esquadria de alumínio que usei. Então, aproveitando minha ida à Porto Alegre, fui na Satti Soldas, empresa especializada que fez um ótimo trabalho ao custo de R$ 70,00. Também substituí as hastes de fixação ao tubo do canote, em alumínio, por outras em aço, serradas de um bagageiro comum. Tive que fazer essa alteração pois as hastes originais Tranz-X ficaram curtas, e a despeito do maior peso, adquiri maior resistência em um possível ponto de fadiga, conforme me alertou o Sidnei da Satti.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Nova bike



Estou com uma nova companheira de viagem. Eu não pretendia mudar de bike tão cedo, pois recém havia montado minhas rodas VMAXX em um quadro GTI com suspensão Suntour XCMV2, pedivela GTS, corrente HG, K7 , câmbio Deore e passador Altus, uma mistureba daquelas.

Mas à duas semanas surgiu a possibilidade de adquirir uma Merida HFS 2000, original e praticamente sem uso. Decidi assumir, e creio que não me arrependerei. Faltam os pedais originais, talvez eu os receba ainda do antigo dono.

Instalei um bagageiro Tranz-X e estou tentando fazer um reforço nele, na próxima semana irei à Porto Alegre na Satti Soldas, então contarei aqui o desfecho do projeto.

sábado, 31 de outubro de 2009

Cachorros, cavalos, ovelhas e bois.

Os cães costumam interagir com as bicicletas seguindo-as, ou melhor, perseguindo-as, a pretexto de resguardarem os seus territórios. Considero essa perseguição uma espécie de esporte canino, pois o cão sabe que não oferecemos perigo e estamos de passagem, tanto é assim que se você parar a bicicleta ele ficará frustrado. Mas alguns cães se exaltam e acabam com o lúdico, mordendo calcanhares e canelas. Nesse caso, eu costumo retaliar com um bom chute, essa regra é tácita e todos os cães a compreendem: aquele que curte a adrenalina, tem que ficar esperto pra escapar do coice.

Ontem, fui seguido por um cachorro, ao subir de bicicleta uma pequena ladeira. Só que neste caso o cão era amistoso, então considerei um sinal para postar.

O vídeo acima mostra um cavalo galopando com o pelotão no Tour de France. É comum assistir em vídeos os cavalos acompanhando as corridas, a galope em pastos paralelos ao trajeto. Mas neste caso específico, um cavalo salta a cerca e entra na prova. Só saiu porque errou o caminho no momento em que a "liderava".

É uma interação especial, da animalidade do homem com a humanidade dos animais.

Hoje fui acompanhar a entrega de uma bicicleta, a pedido do meu amigo Titânio. Quando cheguei à vila de pescadores existente na Ponta do Papagaio, avistei uma figura interessante: um homem puxava uma pesada carroça, do tipo que usam por aqui normalmente com cavalos. Meu companheiro da viagem de frete, o "seu" Paulo, contou que aquele é o Tonho, e me mostou onde mora. Irei conversar com o Tonho para ver o que motivou a dispensa do seu cavalo.

Ainda falando com Paulo, contei que viajaria, e conversamos sobre trajetos. Nessa conversa, ele sugeriu algumas "técnicas de sobrevivência", digamos assim.

"Tu poderias levar anzol e linha". Boa idéia, já pensei nisso também. "Leve uma faca, e quando passares por estradas no meio do campo, à noite, ataque uma ovelha, tire um "quarto" e deixe o resto; para não fazer barulho tu podes afogar o bicho numa lagoa... ou tu tens pena?" Respondi que se tivesse fome pensaria nisso, mas na verdade espero não sentir tanta fome assim. Ele ainda deu outra sugestão: "Tu entras no pasto de bois, laça aleatoriamente um, mesmo à noite tu consegues pois são muitos, então o leva para a lagoa, amarra as patas dianteiras, passa uma corda pela cintura dele e aperta, que ele cai, e aí tu afogas ele."

Parece bestial? não posso falar nada, sou tão carnívoro quanto ele, e terceirizo a matança, o que é muito conveniente para mim.

É difícil terminar essa postagem e colocar um "moral da história", pois toquei num ponto sensível tanto para mim quanto para muitos leitores. Por isso, deixo no ar para que cada um faça a sua reflexão, se quiser.

Em breve mais informações sobre a viagem.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Postagens e preparativos

Quando criei o blog, pensei em uma ferramenta para comunicar-me durante a viagem. Deveria ser apenas um memorial informativo, por isso fico feliz e animado que amigos me encorajem a escrever.

Por enquanto não tenho muitas novidades, apenas que consegui resolver o problema do bagageiro e comprei um alforje da marca "POC", com capacidade de 75 lts.

Neste período de preparativos creio que postarei pouco, não por desinteresse ou falta de assunto, mas para preservar meus amigos de leituras alheias à proposta do blog. Se for necessário, posso criar um espaço para minhas tímidas idéias e aventuras literárias.

domingo, 27 de setembro de 2009

Sobre a Viagem

Foi o Fred, meu parceiro de pedal aqui na Praia da Pinheira, quem teve a idéia de fazer uma viagem até Machu Picchu. Chegamos a um projeto onde pegaríamos a estrada somente após a temporada. Os habitantes do litoral não tiram férias na temporada, essa época é de muito trabalho.

Mas a minha situação é diferente, pois estou livre agora, e terminei por assumir um compromisso para após a temporada. Logo que soube disso percebi que teria que abandonar o projeto ou me antecipar.

Eu já estava decidido a partir sozinho no início de novembro, quando recebi o retorno do Neto, cicloturista que estava planejando uma viagem para o mesmo destino, com partida prevista para o início de 2010. Neto havia desistido da viagem até Machu Picchu pois teria que ir sozinho. Como alternativa, programou com um grupo uma pedalada de Foz do Iguaçu até Minas Gerais, seguindo o caminho da Estrada Real, por Parati, no Rio de Janeiro. Ele sugeriu que eu acompanhasse o grupo nessa rota, e ao completá-la, seguiríamos ao Peru.

Então vamos lá... contando da minha saída aqui da Pinheira, até o Peru são aproximadamente 9.000 kms.

A volta deverá ser, na maior parte, de ônibus e trem. Mas se sobrar tempo, podemos rever.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ervas Medicinais - continuação

Na segunda aula do curso de plantas medicinais, chamei o João de lado para perguntar sobre o ocorrido. Brevemente, contou que foi internado com o corpo paralisado, com evidências de intoxicação pelo agrotóxico que aplicava em sua lavoura. Após o início do tratamento, ficou numa espécie de coma. Mesmo nessa situação, passou inconscientemente a recusar a medicação e aceitar chás de sua mãe.

João atribui a sua cura à sua fé e aos chás de sua mãe. Existe uma cultura de desmerecer os conhecimentos antigos que não foram provados em modernos laboratórios, embora reconhecidos e utilizados por gerações. A prova científica em muitos casos nunca vai existir, pois a pesquisa é paga pelas empresas farmacêuticas: se o resultado lhes é desinteressante e não pode ser manipulado, nunca chegará ao público. É evidente que João foi seduzido pelas aparentes vantagens do uso de agrotóxicos e tornou-se mais uma das tantas vítimas do inseticida evoluído a partir do agente laranja usado para matar vietnamitas. Nada resiste a esse veneno, exceto os frankensteins nascidos das sementes transgênicas de propriedadede da Monsanto, a mesma fabricante do pesticida.

Pfaffia Paniculata

É este o nome do grande segredo dos atletas soviéticos da cortina de ferro, dentre outras referências feitas pelo Professor Volmir. Estou disposto a testar as suas propriedades ergogênicas. Muita gente acha bobagem, mas prefiro acreditar na Pfaffia do que na propaganda da Monsanto por um mundo melhor.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Ervas Medicinais

Hoje tive a oportunidade de participar de um curso sobre plantas medicinais. Quando fui convidado pela Beth, minha cabeça estava voltada para a viagem, em especial na busca de uma solução para o meu bagageiro, que não se adaptava ao meu quadro GTI, mas isso é outra história que falarei noutro momento. Confirmei presença, embora um tanto refratário, pois não talvez não conseguisse me concentrar no curso.

Mas o peso do termo "curso" se desfez logo na chegada ao sítio de Soraia. Prefiro chamar de vivência o dia que passei lá de , pois foi algo totalmente fora dos moldes tradicionais tão anti-pedagógicos. Ela é proprietária de uma área no município de Palhoça, na Baixada do Massiambu. Fica próximo à Praia da Pinheira, ao pé da Serra do Tabuleiro, que é uma APP (Área de Proteção Permanente), ou UC (unidade de Conservação).

A propriedade de Soraia foi adquirida em parte desmatada por seu anterior proprietário. Ela contou-nos a história da sua relação com o sítio, e explicou como o seu contato com aquele chão a fez mudar seus interesses e objetivos iniciais com o uso dessa área, voltando-se para uma produção da forma mais natural possível, dirigida ao atendimento da comunidade. Enfim, esta vivência terá seguimento amanhã.

Mas hoje fiz uma pergunta de interesse pessoal ao professor Volmir, ministrante do curso, sobre ervas para auxiliar no relaxamento de tensões musculares. O professor Volmir usa uma abordagem menos acadêmica, mais próxima da comunidade. Não me disse "tal planta e tal planta ajudam na recuperação muscular", mas sim me apontou algumas plantas indicadas para o meu bem-estar em situações críticas, e inclusive melhorar o desempenho físico. Fiquei satisfeito com a sua resposta, que foge daquela retidão médica que trata cada doença isolando-a do todo, e pelo contrário, aponta fortificantes para que a doença não se instale.

Será mágica? ou bruxaria?

A propósito, é impressionante o caso do João, que havia ficado paraplégico em decorrência de envenenamento por agrotóxicos aplicados na sua lavoura. João é nosso colega, e na nossa vivência de hoje, o conheci sem perceber nele qualquer dificuldade motora, pois caminhava perfeitamente e acompanhou todas as atividades do grupo. Amanhã perguntarei a ele sobre o seu tratamento com ervas.

Amanhã postarei mais informações sobre as ervas indicadas pelo Professor Volmir, e sobre o caso do João.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Justificativa

Alô? alguém aí?

Escrevo sem saber se alguém acessará esse espaço tão cedo, acho que os primeiros serão os amigos pra dar "aquela força", e talvez outros encaminhados acidentalmente pelo google.

Meu interesse neste Blog é manter um diário informativo da viagem de bicicleta que pretendo realizar entre a primavera e o verão, com um roteiro que inclui Paraguai, Bolívia e Peru.

O nome do blog vem de uma frase dita pelo Fred, companheiro de pedaladas. Estávamos subindo o Siriú e ele ficou pra trás, só depois de um bom tempo chegou ao topo, e acompanhado de um vira-latas, disse: "vim conversando com o cachorro", tentando com isso "justificar" a demora. Usei no título do blog "subindo", que sintetiza melhor o causo.

É esse o espírito da coisa. Sem pressa, haverá muito a subir por aproximadamente 9.000 kms.