terça-feira, 4 de maio de 2010

Alegre por quê?


Quando estive morando em Santa Catarina, conheci rapidamente Vilmar. Ex-morador de Porto Alegre, agora vive em uma caverna localizada no Vale da Utopia, Praia da Pinheira. Foi entrevistado pelo programa Globo Ecologia, e quando o entrevistador perguntou a ele sobre seus motivos para essa mudança, ele pensou por três longos segundos, e respondeu: “Porque eu já não me sentia à vontade lá”. Conheço-o pouco, mas sei que nele fervem questionamentos e angústias. Ainda assim, ao invés de uma exposição impactante, poética, ou mesmo a defesa de uma causa ou bandeira, Vilmar preferiu uma resposta sucinta e aparentemente banal.


Antes de ir para Santa Catarina, já não me sentia à vontade aqui. Para um ciclista, as ruas e avenidas de Porto Alegre são especialmente opressoras, com seu trânsito mal-humorado e egoísta. A tensão extravasa o âmbito do trânsito; as pessoas evitam o próximo, seja pelo medo de qualquer desconhecido, pela raiva de alguém diferente de si, ou ainda, pela conveniência de desconhecerem as mazelas do seu vizinho.


Minha volta a Porto Alegre, cidade onde vivi por quase toda a minha vida, não foi um nostálgico retorno ao lar. Durante um ano e quatro meses afastado, observei formas de viver muito diferentes das que conhecia, e agora questiono alguns valores e modelos.


Adendo a essa postagem, escrito em 11 de abril de 2012.


Um dos resultados de pensar, é a eventual mudança de conceitos e opiniões. No aniversário de Porto Alegre, em 26 de março, foi um desses momentos de reflexão, e que me levaram a fazer a seguinte declaração no facebook:


"Eu não compreendia alguns habitantes que diziam que Porto Alegre é a melhor cidade do mundo, pois mesmo eu tendo morado por quase toda a minha vida aqui, percebia que havia outras cidades mais exuberantes, de clima mais agradável, e possivelmente tão ou mais acolhedoras. Mas após um curto período vivendo em outros lugares, voltei e percebi uma outra forma de viver, de me relacionar com a cidade, reencontrei grandes amigos que não esqueceram-me e conheci outros que em pouco tempo já passaram a fazer parte da minha vida. Agora entendo que somos nós que fazemos o ambiente onde vivemos."




Encerramento


Essa foi a minha primeira viagem longa, na qual percorri 4.256 km exclusivamente de bicicleta, metade da distância que pretendia a princípio. Essa diferença foi resultado de uma estimativa equivocada do tempo para o percurso, juntamente com o meu desgaste. A parte física é facilmente recuperável com alimentação e descanso, mas havia o desgaste psicológico. Após passar por diferentes vivências, eu sentia a necessidade de confrontá-las com as informações que já possuía, para buscar uma nova compreensão.


Confesso que não fiz um planejamento da viagem, somente tracei uma rota do litoral catarinense até Foz do Iguaçu, para então me engajar no planejamento feito por Nelson, que juntamente com Estevão, me acompanhou pela Estrada Real. Não me senti obrigado a completar o roteiro, estou satisfeito e já pensando na próxima.


Ainda antes de partir, eu disse que não sabia o que buscava, e que talvez só o soubesse após o meu retorno. Trilhar esse caminho não me trouxe alguma resposta ou revelação, mas resgato em minha memória experiências para comparar as diferentes realidades que observo.


E se há algo mágico nisso tudo, faz parte daquilo que ainda não posso expressar em palavras.