quarta-feira, 11 de abril de 2012

A revolução de Amsterdam desde 1966

Após meu retorno a Porto Alegre, percebi muitos ciclistas engajados, lutando agora em grupo pelo seu espaço. Isso é visível nas ruas, onde percebo que os motoristas parecem melhor informados de que os ciclistas também são donos daquele espaço. Claro, ainda há muitas situações de risco de vida, pois alguns condutores ainda aguardam fiscalização efetiva, mas já sinto a diferença nas ruas, de três anos para cá.

Num forum de discussões, eu soube de um documento que está na internet, de autoria de Reginaldo Paiva, o qual me trouxe alguns esclarecimentos importantes. Vou colocar abaixo o link, não sei se permanecerá, devido aos filtros do Google, mas se for o caso, posteriormente reproduzo o texto e os gráficos dele. O ótimo texto não reflete exatamente o título do post, fala principalmente sobre a bicicleta como instrumento modal de transporte, mas fiquei especialmente entusiasmado de conhecer e ler, no anexo que está na antepenúltima página, um texto revolucionário de 1966, o "Plano das Bicicletas Brancas de Amsterdam", que provavelmente deu início àquela revolução que hoje desejamos que ocorra no Brasil:

http://www.ta.org.br/site/banco/7manuais/arquivos3/Santos_R_Paiva.pd


sábado, 4 de fevereiro de 2012

6º dia: La Paloma

Comecei o dia com um belo passeio pela praia. O caminho a partir do camping atravessava pastagens, e tive que desviar por um caminho que aumentava o trajeto, pois o proprietário não permite que pessoas perturbem de qualquer forma o gado, mesmo que fosse com o mero avistamento por parte dos animais. Tive que empurrar a bicicleta por alguns trechos e perdi-me um pouco, mas ainda assim valeu a pena. O trajeto até o cabo, que de ida e volta levaria 5 horas de caminhada, foi feita em menos de uma e meia de bicicleta. Ao chegar próximo ao farol do cabo, percebi um praia com alguns banhistas, mas como se armava uma tempestade e minha barraca estava sem lona, tratei de retornar logo. Cheguei e em questão de minutos começou a chover. Logo que cessou a chuva, tratei de desarmar o acampamento e seguir rumo a La Paloma, que da mesma forma que Punta del Diablo, estava cheia de turistas, o que me desagradava, e decidi ir direto à rodoviária para saber dos ônibus para retornar ao Brasil. Tive que ficar em um camping cheio porém não havia bagunça, um pouco diferente dos lugares que vi no Brasil, lotados desse jeito. Logo que armei o acampamento, voltou a chover, mas sem problemas, pois as chuvas do dia eram agradáveis e breves. Calculei o quanto tinha em pesos, e esbaldei-me com um prato de nhoques feitos em um estabelecimento lá mesmo, e comprei um litro de cerveja Patrícia, jantei dessa forma na barraca em comemoração à viagem e seu encerramento.



































5º dia – Cabo Polonio

Desde a minha partida eu estava organizando-me para chegar ao Chuí antes de sábado, pois temia não encontrar abertas casas de câmbio para adquirir pesos uruguaios. Mas sem problemas, consegui trocar R$ 100,00, que renderam 1.200 pesos, que eu acreditei suficientes para prosseguir viagem. Após passar pela imigração, segui pelo litoral até o Fuerte de Santa Teresa, onde fquei por algumas horas até o sol forte aplacar. Após, segui até Punta del Diablo, mas não gostei do ambiente, pois o que vi foi somente um aglomerado de casebres com teto baixo e provavelmente muito abafadas, ausência de árvores, enfim, um ambiente que considerei insalubre e repleto de turistas. Prossegui até chegar a Cabo Polonio. O acesso é feito por jeeps, mediante o pagamento de um valor o qual não recordo, 150 a 200 pesos. Novamente, uma aglomeração de turistas que me desmotivou a participar do comboio. Um homem que fazia o transporte ofereceu-me como alternativa um camping distante 4 km dali, e informou-me que por lá eu teria acesso à praia sem passar pelo transporte coletivo. A diária do camping era o valor aproximado do transporte turístico, agradei-me da alternativa e fui para lá. Fui recebido por Juan, que depois acompanhou-me até uma “tienda”para que eu adquirisse gêneros alimentícios para preparar o meu jantar.
























terça-feira, 31 de janeiro de 2012

4º dia: Chuí

Pela manhã, quando saímos, não encontramos o “skatista fantástico”, e o Daniel observou que deveríamos encontrá-lo pelo caminho para o Chuí, o que não aconteceu. No decorrer da manhã o Daniel sentiu-se cansado, pois já vinha desgastado pela viagem iniciada em Florianópolis, tendo passado por uma frente fria com vento contrário e chuvas fortes. Além disso, o trajeto da antevéspera até a praia do Cassino o desgastou, pois pedalou cerca de 160 km naquele dia, enquanto a sua média era em torno de 80 km. Assim, em um certo momento do trecho ele disse-me que não o esperasse, pois o ritmo estava muito diferente. Ainda assim, eu afastava-me, parava alguns quilômetros depois e ele se aproximava, e assim foi até que a partir de certo momento parei em um posto de combustíveis (raros no trecho) para aguardá-lo. Esperei por algum tempo, considerei o que ele havia me dito, e resolvi seguir adiante para chegar ao Chuí, distante 160 km do ponto de onde partimos pela manhã. A partir de então não mais o encontrei. Foi uma boa amizade feita na estrada, infelizmente não anotamos os contatos e provavelmente ficará só na memória de cada um. Cheguei à noite em Chuí, e acampei em um posto de combustíveis na entrada da cidade, encerrando a jornada de mais um dia.


















sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

3º dia: Taim

Durante a manhã ficamos eu e o Daniel envolvidos em localizar uma oficina para fazer a troca do câmbio, corrente e pinha da sua bicicleta, que apresentavam problemas a algum tempo, e aproveitei para comprar um par de luvas para diminuir a dor das mãos. Após almoçar em um restaurante na praia do Cassino, partimos em direção ao Taim. Daniel sentia algumas dores da véspera, pois andou em mais que o costume, que é em torno de 80 km por dia. A viagem foi tranquila, pouco trânsito, e Daniel levava no guidão uma pequena caixa de som com MP3, tecnologia “neta” do radinho de pilha. O calor já era mais forte, após rodarmos cerca de 100 km chegamos até o Taim, e entramos no acesso à Lagoa Mirim. Na chegada, um sujeito, bêbado, chamou o Daniel para o parabenizar. Com uma lata de cerveja na mão, dizia: “vc não deve estar me reconhecendo, mas sou o cara que está fazendo a volta ao Brasil de skate no “Fantástico”. Daniel desconversou dizendo que iríamos a praia e já voltaríamos. Ambos concluímos que “big brother” e “skate fantástico” não mereciam muita atenção, também o bêbado não nos inspirou crédito na história. Assim, acampamos à beira da lagoa, com direito a um banho nela, no fim de tarde mais magnífico da viagem.




















quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

2º dia: Cassino

Comecei a pedalar às 8:00, e minha meta inicial era chegar a Rio Grande, a cerca de 200 km dali. Eu sentia alguns efeitos da véspera: dores na musculatura em torno dos ísquios (ossos que sustentam sobre o selim... ali mesmo) e também nas mãos, além de alguma tensão nos pulsos. Ah, detalhe de um espasmo muscular no tríceps esquerdo, que surgiu na noite anterior, mas diminuiu o ritmo após uma massagem. Ou seja, tudo sob controle: aliviei a dor das mãos com esponjas presas sobre as manoplas e passei a pedalar alternando a posição sobre o selim e a empunhadura no guidão. Após uns 40 ou 50 km pedalados, alcanço uma bicicleta com alforges. É Daniel, vindo de Florianópolis, que segue também com destino ao Uruguay. Falamos sobre nossas provisões de água, pois havia um trecho de 40 km sem nada, e concluímos que estava tudo em ordem. Nos despedimos, já que eu seguia num ritmo mais forte, estimulado pelo vento que se tornou a favor, e pela temperatura que continuava amena. Quando parei para fazer meu almoço, tive um problema com o fogareiro: não segui as normas de segurança e recebi uma borrifada de álcool em chamas na minha perna, que atingiu também um saco plástico com minhas roupas. Debelado o incêndio, verifico que além dos pelos da perna, perdi apenas o meu isqueiro, porém o fogareiro seguiu aceso e não precisei dele. Logo mais, passou o Daniel, e seguimos viagem juntos. Chegamos em Rio Grande antes de escurecer, mas devido a falta de alojamento seguimos mais 18 km até a praia do Cassino, onde ficamos em um bom camping.

Longas retas, com pouco trânsito mesmo no verão.


Tempo encoberto e temperatura amena

Isso pode furar o seu pneu


Lancha para Rio Grande








Este foi o saco que pegou fogo


O caminhão deixou pra trás, incrementou o almoço.



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Viagem de Porto Alegre a La Paloma - Uruguay.

1º dia: a gauchada.

Saí de Porto Alegre pela estrada RS 40, por Viamão, a princípio com pouco vento contrário, mas que foi aumentando pela manhã. Após aproximadamente 60 km rodados, encontrei, descansando, dois ciclistas que iam para o litoral em uma tandem Zohrer. “Tandem” é o nome que se dá às bicicletas para duas pessoas, e “Zohrer” é um fabricante que faz modelos inclinados, onde o sujeito pedala como se estivesse atirado no sofá. Uma característica das tandem, é que o ciclista que vai atrás pode ser menos exigido, se o outro tiver condições físicas de imprimir a marcha. No caso, porém, o de trás estava esgotado, e percebi nele até uma certa irritação, como se pensasse “fui idiota em vir”. Deduzi isso quando seu companheiro de viagem falou que tirou-o do vídeo-game direto para essa viagem de 100 km rumo ao litoral. Deixei-os aguardando o “resgate” e segui viagem. Quando chego a Capivari do Sul, após 85 km rodados, entro à direita e a partir de então o vento nordeste passa a ser lateral, e em alguns momentos favorável. A temperatura estava amena, com nuvens no horário mais quente, assim pude parar numa sombra para cozinhar meu miojo, comer granola com leite em pó "molhado", e em seguida continuar pedalando. Próximo a Bacupari, parei no primeiro estabelecimento em muitos quilômetros, o “Quiosque do Gaúcho”. Havia lá um tchê bem pilchado, com quem travei uma conversa enquanto aguardava um suco de abacaxi. Logo mais chega na roda outro gaudério, mais legítimo que as sandálias Havaianas. Após ouvirem minha história, olham-se entre si com olhares graves que denotam autoridade no assunto, e concluem: “pois então tchê, essa tua viagem é daquelas que chamamos uma gauchada. Uma indiada das boas”. Ou seja, viram em mim, apesar de um esquisito de capacete, bermuda colada na bunda e sapato que faz tlec tlec, alguém dotado do mesmo espírito aventureiro dos seus ancestrais cavalariços. Pensei no ciclista da Tandem, se o seu caso poderia ser definido como uma gauchada, e ainda com essa dúvida segui viagem. Antes, fui informado de que havia passado por ali outro viajante na véspera, e que deveria encontrá-lo pelo caminho. Com as condições climáticas favoráveis, rodei um total de 190 km até um posto de combustíveis, situado 20 km antes de Mostardas, onde montei meu acampamento.



Primeiro descanso da manhã, após Águas Claras


Ciclistas da tandem, dá bem pra perceber qual está cansado


Adiante de Palmares do Sul, parada para o almoço