quarta-feira, 3 de março de 2010

Em Padilla

Após passar por Valle Grande, onde fiquei um dia para descansar e evitar a chuva que caiu o dia todo por lá, fui até La Higuera. Pedalei os 64 kms das 8:30 às 16:30, com minha parada para almoço. Em uma subida, fui solicitado a empurrar uma caminhonete, juntamente com outras duas pessoas que estavam com o motorista. A 4X4 estava sem bateria e presa em uma parte lodosa da estrada, empurramos pra frente e para cima, depois para trás e para baixo, até que o motorista a ligou no tranco engatado em ré. Foi embora sem oferecer carona, mas nao faz mal porque eu também nao aceitaria. De qualquer forma, eu ia pensando nisso quando mais à frente uma outra caminhonete passou por mim, e parou mais adiante. O acompanhante saiu do carro para tirar uma foto minha e eu fiz um "V" de vitória para a foto. Depois ele me ofereceu carona, a qual nao aceitei.

Em La Higuera, onde fiquei dois dias, parei num alojamento a 20 bvs a diária, que fica no prédio comunitário onde funciona a escola. Quando eu estava tirando a lama da bicicleta, apareceu uma mulher oferecendo alojamento a 15 bv, mas eu lhe disse que já tinha tratado com outro. Ela disse que servia jantar, e era do tempo da guerrilha. Sua "tienda" fica antes do alojamento onde fiquei, ao seu lado. Fiz lá as minhas refeiçoes, conversamos um pouco sobre aquela época. Ela contou que era quem quem servia refeiçoes ao Che, e falava com lágrimas nos olhos. Contei que no Brasil as pessoas que se identificam com o Che sao discriminadas, pois as pessoas se guiam muito pelo que diz a imprensa, toda de direita. Falei também que a imprensa diz o que lhe convém e alega ser opiniao pública, como fosse mandatária do povo, mas ao final convence muitos, e assim vai muito bem. Falamos sobre a internet como difusora de informaçoes, e ela, mesmo sem posuir internet, e com os seus aproximados 65 anos, mostrou ter essa consciência.

Saí de La Higuera rumo Villa Serrano. Saí num vôo cego, pois nao tinha a noçao da distância. Retornei 10 kms de subida, até a saída que há em direçao a Villa Serrano. Desci por quase 25 kms, já pensando que a cada descida normalmente corresponde uma subida de semelhante magnitude. Minha dica para quem for por esse caminho: leve bastante água, pelo menos uns 4 lts. Nao vai durar o percurso todo, mas ao menos dá tempo de chegar seguro a algumas vertentes. Mais adiante, vi uma placa que anunciava mais 75 kms pela frente, que somando o que eu tinha andado, dava 115 kms. O tempo que estava úmido começou a esquentar e ficar desértico, até próximo ao meio dia cheguei a um rio, e aí... subida e mais subida, numa estrada ruim, muito calor. A estrada segue margeando o rio, e todos os rios que eu tinha visto até entao, incluindo esse, possuem águas totalmente lodosas, e entao comecei a perceber que as montanhas no seu entorno estao se desmoronando. A rampa nao é muito inclinada, mas há muitas pedras soltas, a pedalada nao rende. Passando um pouco de "El Oro", há um riozinho que é necessário atravessar, apesar da profundidade até os joelhos e a correnteza forte. Escapei de cair e molhar todo o equipamento, peguei água de lá, que segundo nativos que ali estavam é boa para beber, tomei um banho pra me refrescar um pouco e segui pedalando até o entardecer. Já estava muito cansado, e quando ia já procurando onde cair, cheguei a "Nuevo Mundo", um vilarejo a 95 kms da minha partida. QUando cheguei lá, virei atraçao da cidade, onde ia, o povo me seguindo. Em frente à praça, há uma mulher que possui uma pensao, e me serviu um jantar reforçado. Embora outro homem tenha me oferecido hospedagem, fiquei por lá, instalado numa salinha onde havia dois telefones, creio que os únicos do povoado. À noite entrou alguém para tentar uma ligaçao, e pela manha fui acordado com alguém telefonando. Pela manha saí, dei algum dinheiro a mais para a mulher, que precisava resgatar os filhos que estudavam em Villa Serrano, e segui viagem. De lá, mais 30 kms até Villa Serrano. Parei lá para acessar internet e almoçar. Depois de falar com o motorista de um micro que iria a Padilla, decidi seguir viagem, pois distante 25 km de lá, e com boa estrada, sem subidas. As informaçoes bateram certo, fora a diferença de uns 4 kms a mais até o centro. Cheguei aqui em Padilla pelas 3.30 hs da tarde, quando parei em frente ao "Alojamiento Municipal", um menino na calçada me viu, abriu o berreiro e saiu correndo... ciclista é um bicho estranho mesmo. Me instalei em um bom quarto com banho privativo e TV boa (detalhe do chuveiro estragado), consegui lavar algumas roupas e tomar um banho atrasado em 3 dias.

Consegui postar algumas fotos, mas a lerdeza impressionante desse PC prejudicou. Pus mais algumas no Orkut pra aproveitar o tempo.

Che, com montanhas ao fundo.


Pneu com cravos cortados, pois passando por lamaçais sujavam a corrente.


Após descer de La Higuera, encontrei este rio que separa as serras.


Essa a paisagem desértica margeando o rio.


Em "El Oro", um riacho entre sobras de minério e lama das encostas.


Paisagens magníficas


apesar da estrada difícil.


Tive que atravessar esse rio carregando a bike, e nele me abasteci.


Muito calor e subidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário