Passei o dia próximo à rodoviária de Santa Cruz, chamada de terminal bi-modal por ser também terminal de trens. Embora o vendedor, com uma conversa muito "envolvente", tenha me dito que o ônibus partiria às 19:00 e chegaria às 17:00 do dia seguinte, a fatura que ele me entregou anunciava 19:30. Como não havia muito o que fazer, cheguei às 18 hs. Fui primeiramente ao guichê da agência TransSuarez, que vendeu-me a passagem da empresa Yacyreta, e eles trocaram minha fatura por uma passagem onde constava o horário de partida como 20:00. Todavia, o ônibus só partiu às 20:45, com quase duas horas de atraso. Antes da partida, recebi uma segunda passagem, e então fui conferir ambas: A primeira, de Santa Cruz a Assunción, no valor de U$ 55, e a segunda, de Assunción a Ciudad del Este, no valor de U$ 10. Logo, a viagem não seria direta como havia dito o vendedor. Durante a madrugada, protegi-me do ar-condicionado com o meu saco de dormir, e acordei só quando o dia clareava, já junto à imigraçao da Bolívia, onde o ônibus havia parado para que fosse registrada a saída dos passageiros. Descemos todos, e um militar, com um fuzil, mandou que caminhássemos pela estrada até o posto de imigração, distante uns 500 metros dali, e enquanto isso o ônibus era revistado. Na caminhada ouvi algém falando em português, era o Renato, com quem então fui conversar. Chegamos a um casebre de madeira com uma varanda, e aguardamos um pouco até a chegada de um funcionário. Lá, fui inquirido sobre meus motivos e o tempo que permaneci na Bolívia, e logo depois recebi a baixa e fui liberado. Em frente à imigração havia algumas mulheres fazendo câmbio, então troquei meus últimos pesos bolivianos por guaranis paraguaios, pois até Assuncion não há casas de câmbio, e nem são aceitos reais ou pesos bolivianos. Quanto aos pesos bolivianos, creio que sequer nas casas de câmbio são aceitos.
Rodamos vários quilômetros pelo chaco paraguaio, até sermos abordados por policiais, que abriram os bagageiros e entraram no ônibus para ver os volumes que eram transportados. Depois disos, houve uma sucessão de paradas, com entradas de policiais, até que chegamos ao posto de imigração e aduana paraguaios. Lá, ficamos por mais de uma hora dentro do ônibus, aguardando outro veículo que estava sofrendo uma vistoria "pente fino". Os passageiros estavam na rua com suas bagagens por perto, enquanto policiais caminhavam por cima do ônibus com espelhos presos em hastes, procurando algo escondido. Enquanto isso nosso ônibus permanecia com o motor ligado, devido ao ar-condicionado. Contudo, os passageiros preferiram abrir as janelas, pois o ar-condicionado que funcionou tão bem durante a noite, durante o dia não tinha o mesmo desempenho.
Quando chegou a nossa vez, retiramos todas as bagagens e colocamos em uma fila, e nos postamos cada um ao lado de sua bagagem. Um cão pastor alemão, que nos aguardava numa jaula, foi atiçado por um policial com o "brinquedo" do seu treinamento, e logo após foi solto, para buscar cocaína nas bagagens. As pessoas eram revistadas, e algumas mais detalhadamente. Suas roupas eram apalpadas nas golas e costuras, suas malas eram apalpadas em busca de fundos falsos, as peças de metal eram vistoriadas em busca de soldas não-originais, os cremes das mulheres eram cheirados e testados em sua consistência. Quando fui chamado, após conversar com o policial sobre a minha viagem de bicicleta, fui liberado. Depois, soube que o Renato também não sofreu uma revista rigorosa. Assim, quando estávamos já partindo, o ônibus se deteve porque algúem nao passou pela imigração para receber a autorização de entrada. Fui eu, pois quando o oficial me liberou, fui direto para o ônibus. Após alguns minutos a mais, dessa vez por minha causa, seguimos viagem. Já eram mais de três horas da tarde, e estávamos muito distantes ainda de Assunción, o que me "fez supor" que não chegaríamos às 5 hs da tarde em Ciudad del Este. Após mais quatro paradas para conferência de documentações e bagagens, chgamos à 00,30 da madrugada junto à rodoviária de Assunción. A embreagem do nosso ônibus, que já estava patinando a cada vez que arrancava desde o início da viagem, não suportou a última ladeira antes da rodoviária.
Chegamos a pé na Rodoviária, somente eu e o Renato, pois os demais passageiros ficaram em um alojamento pelo caminho. Embora o motorista houvesse dito que sairiam ônibus por toda a madrugada, havia só um, às 4.00 da manhã, mas não pudemos embarcar nele porque nossas passagens não estavam completamente preenchidas, e não estaríamos na lista de passageiros. Deveríamos, então, esperar até às 7:00, quando a empresa abriria. Esperamos até às 8:oo, mas desistimos quando alguém, dos guichês das empresas vizinhas, disse que por ser domingo, os trabalhadores deveriam chegar somente pelas 10 hs, possivelmente "borrachos". Cansados de tanta espera, compramos nossas passagens com outra empresa, a NSA - Nuestra Señora de la Assunción. As passagens, que custavam 12 dólares, saíram por 10 cada devido à negociação de Renato, enquanto eu cuidava das bagagens.
De Assunción a Ciudad del Este, distante 400 km, a viagem foi muito confortável, ficamos na primeira fila de cadeiras no segundo andar do ônibus, com um moderno DVD em telas de LCD, tudo novinho e em perfeito funcionamento. Chegamos em Ciudad del Este às 12:30, com dezenove horas de atraso, e bastante chuva.
Fim da viagem?
Estou de volta ao Brasil, pronto para ver algumas pendências de minha vida. Daqui em diante, provavelmente mudarei a freqüencia e os motivos das postagens. Mas essas impressões imediatas que eu trouxe aqui, durante a viagem, em alguns casos são rascunhos de histórias que ainda não pude desenvolver. Irei recordá-las, e pretendo escrevê-las também, embora ainda não saiba de que forma farei, pois é possível que, com o fim da viagem, os leitores se desmotivem ou esqueçam do blog.
Se isso acontecer, não ficarei aqui sozinho. Mas de qualquer forma, nas próximas semanas devo postar as demais fotos e vídeos, bem como contar algumas histórias que ficaram para trás.
Expedições realizadas:
Há 2 anos
Que aventura esse retorno hein, mas que bom que deu tudo certo, vou continuar acessando no aguardo de novos relatos interessantes sobre sua mochilada a pedal...
ResponderExcluirEu, após ter caído de bike e me quebrado, voltei a pedalar hoje, devagar e sempre, espero sair em alguma trip algum dia também!
abraço, Serginho
E aí
ResponderExcluirCara, parece muito mais difícil andar de ônibus por essas paradas do que de bike. Bom, estamos esperando tua visita. Mas vê se vem com tempo pois vai chover perguntas.
Abraço do Wladi
É isso aí, bela aventura!
ResponderExcluir