sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Em Santa Cruz de la Sierra

Ontem madruguei para tentar me vacinar contra a febre amarela, requisito para ter permitida a minha entrada e permanência na Bolívia. Primeiro, cheguei em um posto de saúde em Corumbá, antes das 7:00hs, horário de sua abertura. Esperei lá até umas 7:30hs, sem que os funcionários soubessem se a vacinadora compareceria ou iria vacinar na área rural. Resolvi procurar outro posto, e no caminho encontrei um grupo de agentes de saúde, que me orientaram a ir até o posto especializado em vacinas que funciona na rua da ladeira, atrás da Capitania dos Portos. Resolvido o problema, fui até a Anvisa, onde rapidamente foi feita a carteira internacional de vacinas. De lá fui até a "imigración", e assim fui autorizado a permanecer por 30 dias na Bolívia. Tudo isso em tempo hábil para pegar o fatídico "trem da morte".

Na minha passagem, grafaro "premera" O detalhe, as classes sao invertidas, assim, a primeira é na verdade a última. Isso nao me assustou, pois em minha passagem pela Bolívia precisarei ter contato com o povo, pior vai ser ao passar em locais com a densidade demográfica baixa. Eu poderia ter optado por outro tipo de turismo, como me disse um brasileiro que estava comigo na fila da Anvisa, tentando levar seu filho para estudar medicina na Bolívia: "tem tanto lugar bonito no Brasil, pra que ir pra fora". A resposta para o lugar comum: "nao procuro só os bonitos, mas os feios também". Fosse o caso de procurar conforto, além da via aérea por onde ele viajará, mesmo de trem há passagens mais caras que dao direito a vagoes mais confortáveis, e há a opçao "luxo" em outro trem mais rápido e confortável. Se bem que no dia que comprei a passagem, nao havia alternativa.

Eu estava preparado para encontrar bancos de madeira, igual aos de praça, conforme me disse equivocadamente um brasileiro. Na verdade, sao poltronas de espaldar alto para duas pessoas, e nao reclináveis. Logo que embarquei, consegui pular para uma poltrona que estava vazia e assim fui confortavelmente por um bom trecho. Me chamou a atençao, já no início da viagem, uma garota que havia se deitado em frente à sua poltrona e esticado as pernas pelo corredor. Pensei que ela teria problemas com o fiscal, mas por ela passou uma equipe de dois fiscais e um policial, e todos desviaram cuidadosamente e seguiram até o outro vagao. A cada parada, entravam muitos vendedores de limao, sucos, frango, peixe frito, biscoitos... sem contar os que viajavam junto. O vagao parecia uma feira, todos entravam gritando para anunciar o seu produto, e saltavam sobre a garota, até que, receosa, recolheu as pernas por alguns instantes para depois reretomar como estava. Após um terço da viagem, fui acordado e convidado a sair de onde eu estava e retornar ao meu assento, entao percebi que havia embarcado uma multidao que lotou o vagao. Fui dividir o assento com a garota, que era minha vizinha. A partir daí, o pessoal começou a se esticar pelo chao, e era gente com pernas para cima, outros para o lado, iam tentando dormir do jeito que dava. Entao perguntei para a garota que se apertava ao meu lado, se ela queria deitar no chao, que entao eu levantaria as pernas e ficaria sobre o assento. Ela prontamente aceitou e se esticou, enquanto eu tratei de dar alguns cochilos amontoado em um metro de comprimento do banco. E os vendedores, fiscais e policial, passavam por cima e desviavam de todos com uma destreza impressionante. E assim foi, por cerca de 20 hs de viagem.

Quando cheguei, tive dificuldade para retirar a minha bicicleta, pois o vagao das bagagens liberou algumas malas e se foi. Imagina o susto, o trem vai embora e o carregador me abanando. Ouvi ele gritar SEGUNDA. Já pensei que teria que esperar até segunda, mas era a segunda entrada. Até eu a encontrar... dei algumas voltas pela estaçao, e cheguei até o setor de encomendas. O funcionário ainda me achacou 20 bolivianos, os quais eu paguei conformado, embora incomodado. Rodei um pouco e achei, próxima ao centro, uma área que parece a Chinatown dos seriados de TV, nao fosse os homens com chapelao branco e macacao, juntos de suas mulheres com roupas de puritanas. Alám disso, um trânsito complicado, carros parados fazendo carga e descarga ou conversando, e outros buzinando... nas avenidas maiores é bem difícil pedalar ou atravessar a pista. Achei um"alojamiento" básico que custa 30 bolivianos, equivalente a menos de R$ 10,00, e almoçei uma refeiçao completa com uma coca de 600 ml pelo equivalente a R$ 3,00. Quero ressaltar que faço essas observaçoes todas, que incluem valores, para dar uma noçao ao pessoal que pretende fazer esse trajeto, entao se eu estiver sendo chato, por favor, perdoem-me.

Agora, após essa postagem, retornarei para o "alojamiento" para descansar um pouco, pois a viagem foi cansativa. Assim me despeço de todos, até a próxima!

Um comentário:

  1. Buenas hermano!

    Hahai, o relato não está chato não, nem se preocupa com isso. Tá bacana assim. Alguns detalhes que você menciona eu já tinha conhecimento a partir de outros relatos, toda essa correria e gritaria dos vendedores no trem, a obrigatoriedade da vacina e etc.

    Agora estou curioso pra saber qual seu destino, o que pretende fazer, vai começar a pedalar depois de Santa Cruz? Não esqueça de passar em La Higuera, onde o Che foi assassinado.

    No mais, suerte camarada!

    Hasta!

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